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Foto do escritorDane Souza

Life Is Beautiful, 2015


Esse texto merecia pelo menos uns 5 capítulos com destaque para alguns monstros do gênero que foram anunciados neste festival que vem acontecendo em Las Vegas, Nevada. Por coincidência, a edição de 2015, que possivelmente foi a melhor de todas até o momento, estava marcada para poucos dias depois que chegamos na cidade.

Ainda no Brasil, já tinha tomado conhecimento daquilo, mas não consegui comprar ingressos, já que a venda para fora dos Estados Unidos não era tão simples. Na sexta-feira, 25 de setembro, visitamos a clássica Freemont Street e de quebra fomos nos informar sobre as entradas, já que tudo aconteceria em três ou quatro quarteirões fechados, logo ali do lado.

O valor para os três dias era bastante elevado e não consegui escolher apenas um, já que havia pelo menos uma grande atração de peso em cada data. Por sorte, que poderia ter se transformado em uma baita dor de cabeça, fomos abordados por um sujeito perto do portão que contou que não iria mais e estava disposto a vender seu passaporte pela metade do preço.

Confiamos, mesmo sem saber se aquela pulseira daria direito a um ou três dias. E no primeiro, naturalmente deu certo. Entrei sozinho naquele espaço mágico que, por mais que não tivesse o mesmo reconhecimento de outros festivais do estilo, não devia nada pra nenhum Rock in Rio ou Lollapalooza. A organização era impecável e os detalhes, maravilhosos. O mote da nomenclatura era verdadeiro e, além de várias ações e palestras isoladas, toda decoração te obrigava a lembrar que a vida realmente é bela e que devemos valorizar mais as pequenas coisas. Porém, sem esquecer da psicodelia, já que era impossível passar batido pelo gafanhoto gigante de metal que soltava fogo pela boca ou pela enorme Hello Kitty pintada com trajes do KISS.

Na sexta, nomes como Hozier, SZA e Major Lazer não me provocaram reação nenhuma, mas enquanto não chegava a hora da principal atração da noite, algo me dizia para conferir aquele grupo de nome meio estranho, que ainda não tinha estourado por aqui. Presenciei as primeiras músicas do Twenty One Pilots e você as pode conferir no resumo oficial que fiz desse evento no vídeo ao final da página.

Não assisti a dupla até o fim porque no Downtown Stage estaria Stevie Wonder. E não fiquei tão longe assim daquele mito, que abriu logo com um cover de Marvin Gay e hipnotizou todo mundo com “How Sweet It Is (To Be Loved By You)”. A performance seguia irretocável, com direito até a uma releitura de “Waiting In Vain”, de Bob Marley. Mas naturalmente o ponto alto ficou para a parte final do show, quando o público foi ao êxtase com a execução de “Higher Ground”.

Quando acabou, tentei conversar com algumas pessoas para perguntar sobre a pulseira e conferir se estaria tudo certo com minha entrada no dia seguinte. E fiquei pasmo com a falta de educação de um povo que, de acordo com o evento, deveria praticar o contrário. Como pensaram que eu estava vendendo a pulseira, nem quiseram me ouvir. No último casal que abordei, já depois de algumas 'pancadas', falei com bastante calma já explicando que não queria vender o ingresso. O rapaz até parou pra me escutar, mas sua namorada o puxou pelo braço e me soltou um “seu lixo”.

Voltei caminhando até o hotel, como faria também nas noites seguintes. Rua deserta com pouca movimentação, onde se percebia que aquela Las Vegas que borbulha por 24 horas ininterruptas não existe mais. A própria Freemont, retratada em diversos filmes e no videoclipe do U2 para a música “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, não ficava mais aberta depois das 03h.

De qualquer forma, o sábado foi outro dia memorável, onde mais uma vez não fui atraído por bandinhas queridinhas do mainstream atual (como Royal Blood e Chance The Rapper) e fui guiado pelo que minha audição naturalmente se prendia. Assisti parte do show do SOJA e depois não saí mais do palco principal, onde se apresentariam Duran Duran e Imagine Dragons.

Chega a ser cômica a forma como o tempo faz você se curvar para uma banda que anteriormente te incomodava. Na década de 90, no auge da época da MTV, o Duran Duran era aquela banda melosa que, no meio de uma explosão de ótimas bandas de rock, não me interessava. Mas em 2011, quando vi pela TV o show dos caras no SWU, eles já fizeram com que eu me arrependesse de toda aquela espécie de amargura pré-adolescente. E vê-los ao vivo, quatro anos depois, me fez reverenciar ainda mais a obra daqueles britânicos.

Começaram com “Paper Gods”, do disco mais recente, depois foi uma sequência quase cínica de hits que marcaram gerações como “Hungry Like The Wolf”, “A View To A Kill”, “The Reflex” e “Come Undone”. Sem tempo para respirar, porque até as músicas novas tinham aquela pegada dançante dos clássicos, casos de “Pressure Off” e “Last Night In The City”. Entre elas, “Ordinary World”, “Notorious” e “The Wild Boys” pra fechar o primeiro ato. E no bis, “Rio”, com direito até a “uno, dos, três, quatro” antes do refrão.

Alguns minutos de espera e seria a vez de outra banda que calou minha boca. Primeiro porque, de início, fecho naturalmente a porta pra toda espécie de arte que se torna uma febre maciça de uma hora pra outra. Então, quando vi a câmera focando no jovem público que esperava por eles no Lollapalooza de 2014, com dragões pintados no meio do rosto, tive quase que a certeza de que o que viria seria um estorvo. Ledo engano, de novo. E silenciosamente pedi perdão já na primeira música.

O show daquela noite teria um repertório distinto, já que eles tinham há pouco lançado o álbum ‘Smoke & Mirrors’. Começaram com “Shots”, o novo single. E na terceira música, um emocionado Dan Reynolds desabafa o prazer de estar ali, há poucas quadras de onde eles cresceram e começaram a banda. Depois de “It’s Time”, mais algumas músicas do novo trabalho e rolou até uma cover de “I’m Gonna Be (500 Miles)”, eternizada pelo The Proclaimers.

De onde eu estava, além de tudo que ocorria e tocava, se percebia claramente a magia daquela cidade única. Atrás do palco, um hotel teve suas janelas iluminadas com lâmpadas que obedeciam as batidas das músicas e, de longe, mais pareciam uma caixa de som gigante. Depois de “Demons”, destaque para “On Top Of The World”, “I Bet My Life” e “Radioactive”.

Ainda deu tempo de cruzar os quarteirões e assistir Snoop Dogg no espaço secundário. Inicialmente, era domingo o dia que eu mais estava esperando, mas depois de tudo que havia visto na sexta e no sábado, já não estava mais nem pensando nisso.

Lembro de um amigo ter me recomendado escutar Two Gallants, que tocaram no terceiro palco. E depois deles, ali se apresentou a Walk The Moon, que eu nem conhecia (ainda) por “Shut Up And Dance”. Tanto que a única música que gostei enquanto estava ali foi “Work This Body”.

O grande motivo pela minha animação daquele dia era o Weezer, penúltima atração do Downtown Stage. Antes deles, seria a vez de Brandon Flowers com seu disco solo e alguns hits do The Killers, banda que também era de Vegas, mas que eu nunca consegui sentir qualquer apreço. Por esse motivo, fiquei esperando o cidadão terminar seu show egocêntrico sentado mais ao lado para que, quando terminasse, eu chegasse mais perto para ver a banda que eu tanto esperava. Porém, como fazia tempo que eu não frequentava um festival daquele tamanho, pisei na bola e claro que não consegui me aproximar muito do palco.

Ainda assim, foi fantástico. Clássico atrás de clássico e aquele quarteto ali, distante a poucos metros. Atrás dos integrantes, um telão com o logo da banda e um fundo com luz e fumaça que mudava de cor de acordo com a fase da faixa que estava sendo tocado. Ou quase isso. Não ficou verde em “Hash Pipe”, mas ficou vermelho em “Back To The Shack” e “Troublemaker”, colorido em “Dope Nose” e depois ganhou asas no bis, com “Beverly Hills” e “Buddy Holly”. Sem contar que não faltaram “Island In The Sun”, “Undone (The Sweater Song)”, “Say It Ain’t So” e outras da época mais antiga.

Depois, dei uma olhada em Death Cab For Cutie (e quase dormi em pé). Antes a Halsey também tinha se apresentado, mas acho que nem passei por perto. Oficialmente, o grande nome do evento e daquela noite era Kendrick Lammar, mas quando o show dele começou, eu já devia estar chegando próximo do hotel.

Você pode acompanhar parte do que foi descrito nessas fotos e no texto abaixo, sem contar que no canal ainda tem vários vídeos individuais dos shows de Duran Duran, Imagine Dragons, Weezer, Stevie Wonder, Twenty One Pilots e Snoop Dogg.

Vale ainda dizer que se você por acaso estiver planejando uma viagem pra cidade do pecado, tente marcar para o fim de setembro. Depois daquela, as duas edições seguintes foram bem menos interessantes, mas só a estrutura e toda a funcionalidade de um festival como aquele já fazem valer o investimento.

Se bem que, pensando melhor, qualquer época é época pra se visitar Las Vegas.


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