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Foto do escritorDane Souza

Planeta Atlântida, 2001

Atualizado: 1 de ago. de 2018


Se você não esteve presente na edição catarinense do tradicional festival de verão da RBS naquele ano, dificilmente sabe de tudo que aconteceu em um episódio que poderia ter se transformado na maior tragédia coletiva que teríamos na região da Ilha. Vou até testar a hashtag de #Denúncia.

Sexta-feira, 26 de janeiro. De ônibus, eu e um amigo seguimos para Florianópolis e somos recebidos de braços abertos por um tio meu que morava na capital. Além da generosa hospitalidade, ele se propôs a levar e nos buscar durante os dois dias de festival.

No papel, foi uma das melhores edições até então, já que o evento se via na sombra, mesmo que bem distante, do retorno do Rock In Rio, que aconteceria pouco tempo depois.

A tarde abriu com Combat, esquentou com Acústicos & Valvulados, tacou fogo com Tribo de Jah e se viu hipnotizada com o som de Zeca Baleiro. Já escurecia quando o Charlie Brown Jr quase botou tudo abaixo e o Cidade Negra não deixou por menos na sequência.

A noite fechou com a elegância de Fernanda Abreu, com a animação do Capital Inicial, com os hits do Skank e com a fumaça desregrada do Planet Hemp.

No sábado, estávamos próximos do palco, esperando o início do show do John Bala Jones, quando vimos um funcionário despencar de costas de uma altura de aproximadamente seis metros. Um cabo possivelmente se rompeu e o socorro foi imediato, mas pelo que soubemos, ele não resistiu e faleceu ainda no local.

Depois da banda catarinense, foi a vez do Natiruts e quando começou a apresentação do Nenhum de Nós, o espaço já estava completamente tomado. E tudo parecia em harmonia com o embalo de Gabriel, O Pensador e depois com Jota Quest, mas no meio do show de Lulu Santos, fortes rajadas de vento derrubaram parte da estrutura do palco, que se chocou com a fiação da rede elétrica, provocando faíscas e algumas labaredas.

Se a chuva antes daquilo estava modesta, passou a não colaborar mais e se tornou intensa. A multidão, em desespero, corria para onde o nariz apontava e muitos foram pisoteados em torno da muvuca. E para deixar o cenário ainda mais caótico, raios começaram a cair nas proximidades. Cheguei inclusive a me perder do grupo durante parte do tumulto.

E a reação de Lulu Santos?

Nenhuma. Assim que o cantor percebeu que 'a casa' estava pra cair, deu de ombros e abandonou o palco.

Claro que sua principal motivação deve ter sido a segurança, sua e dos músicos contratados, mas não custava nada deixar ao público uma pequena palavra de conforto antes de virar as costas e deixar seus fãs ao relento para supostamente queimarem naquele inferno travestido.

Essa colocação pode parecer um exagero para quem eventualmente vier a ler este texto, mas não foi para quem vivenciou aquele tenso momento que poderia terminar de uma maneira pior ainda.

Imaginem um palco desabando, a chuva aumentando, choques e curtos estourando em diversos cantos, raios caindo e trovejando com milhares de pessoas gritando e se desesperando sem saber pra onde correr. Se não bastasse, a localização do festival era bastante afastada e mais de dois terços do público presente dependia do transporte coletivo para ir e voltar. Sem contar nas pessoas que se perderam, se machucaram e precisaram de atendimento médico no meio de uma situação de emergência coletiva.

Oficialmente, claro que o incidente não foi tratado nesse prisma. A RBS TV omitiu muita coisa das reportagens que produziu nos dias seguintes e a morte do funcionário nunca foi confirmada. Como quatro shows ainda estavam programados para aquela noite e não aconteceram, a emissora simplesmente organizou um evento gratuito em Florianópolis dois meses depois e se viu livre do direito de prestar qualquer outro ressarcimento. Páginas como o Wikipedia tratam o fato com poucas linhas e é por isso que repetimos o que dissemos nas primeiras palavras desse texto: só quem esteve presente sabe o que realmente aconteceu.

Situação que, com a vigilância tecnológica de hoje, dificilmente iria passar batida novamente.



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