Neste ano, no exato segundo fim de semana em que acontecia o Rock in Rio, tivemos uma viagem marcada para Las Vegas. Quando soubemos do período em que ficaríamos lá, imediatamente fui atrás da agenda de shows que aconteceriam no local e fiquei surpreso ao perceber que, no exato dia em que chegaríamos, teria já uma apresentação do Lemonheads marcada em um barzinho de um hotel que ficava a poucos metros do nosso.
Porém, a loucura começou já no aeroporto do Rio de Janeiro, quando avistamos a equipe do Mötley Crue e, com um olhar mais atento, percebi um Vince Neil perambulando ali no meio. Com certo receio de que eles não estivessem no clima de qualquer abordagem, fui em direção a ele, dei um alô e perguntei o que ele tinha achado do festival. Ele falou que curtiu muito, perguntou se eu gostei e, antes de dizer adeus, perguntei se poderíamos registrar o momento. Com extrema simpatia, ele disse que sim e nem fiz questão de procurar por Tommy Lee.
Era uma quarta-feira, 23 de setembro. Depois de uma longa escala em Los Angeles, chegamos na cidade do pecado e fomos cuidar das instalações. O show estava marcado para as 18h e, mesmo sabendo que começaria bem mais tarde, cheguei lá bem antes do bar abrir. Era o terceiro na fila quando escutei a conversa dos primeiros com a recepcionista e me dei conta de que estava sem nenhum documento. Voltei andando para o hotel, peguei o passaporte e voltei para a fila.
Tomei umas duas cervejas no intervalo de duas horas e então colei no palco para esperar a banda de abertura. Não lembro o nome deles, mas tinham uma vocalista de cabelo vermelho, eram ali de Vegas mesmo e tocaram apenas músicas autorais. Bastante interessante, mas o prato principal ainda estava por vir.
Ao caminhar do camarim para o palco, já se percebia que Evan Dando estava levemente alterado. Porém, assim que chegou lá em cima, pegou o violão e já começou a tocar, fazendo com que os demais integrantes entrassem junto e lhe acompanhassem na batida. Isso quando ele não pedia licença e executava um ato acústico sozinho, com as músicas de seu trabalho solo.
O público não era tão grande, mas ninguém que estava lá ficou indiferente. Por algumas vezes o vocalista desceu do palco, conversou com alguém, atravessava o recinto para pegar uma bebida no bar e em uma dessas escapadas, parou na minha frente e vidrou os olhos na camiseta que eu usava. Era uma peça do Soul Asylum e eu sabia que eles já haviam excursionado juntos por algumas vezes.
Ele falou: “nice shirt”. Eu agradeci, falei que era brasileiro e que estávamos esperando o Lemonheads por lá. Ele ficou lisonjeado, fez uma reverência com as mãos e perguntou se tinha alguma música que eu gostaria de escutar. Respondi, no ato, "Into Your Arms", que eles ainda não haviam tocado. Ele fez que ‘sim’ com a cabeça, voltou pro palco e tocou outra música. No fim das contas, ela sequer estava programada para o repertório.
No fim, foram 26 faixas executadas naquela noite, alguns covers, outras de seu disco solo e muitas que não tiveram reconhecimento comercial fora da época em que eles eram um dos peixes grandes da MTV americana.
Quando saí do bar, estava com 75 centavos no bolso e não queria voltar pro quarto com o sentimento de que torrei (quase) tudo que tinha quando havia saído. Infelizmente não encontrei máquinas que aceitavam moedas, então essa parte do plano não deu certo.
Caso alguém ainda esteja lendo essa parte, pode se perguntar “mas como ele gastou o resto?” ou “quanto dinheiro ele tinha?”. E vou te responder com o título da segunda música que gravei naquela noite.
‘Se eu pudesse te falar, eu te diria’...
SETLIST (The Lemonheads – 23/09/2015) The Sayers Club - Las Vegas, USA
My Idea
Being Around
Tanderfoot
Hospital
Down About It
My Drug Buddy
Confetti
Style
The Great Big No
Paid To Smile
It’s About Time
Break Me
Dawn Can’t Decide
Mexico
If I Could Talk I’d Tell You
Into Tomorrow
Speed Of The Sound Of Loneliness
I’ll Be Here In The Morning
Alison’s Staring To Happen
The Outdoor Type
Frying Pan
Hard Drive
All My Life
Favorite T
Stove
Rudderless
Comments