Em 1998, comecei a me envolver de uma maneira mais intensa com a emissora que desde 92 era presença constante na TV de casa. A proximidade com um conhecido que tinha relações comerciais com a MTV Brasil permitiu que eu e alguns amigos participassem, até de maneira mais direta, da programação e dos eventos do canal paulista.
Talvez tenha sido em abril que recebemos o sinal verde para que participássemos do Quiz MTV, programa de auditório comandado por Rafael, da banda Baba Cósmica, e Adriane Galisteu. Montamos uma equipe, fomos de ônibus para São Paulo e vencemos o primeiro round com a mão nas costas. Tive inclusive que cantar um trecho de uma música do Cidade Negra na prova final, que ganhamos e nos classificou para a etapa seguinte, que seria em outra data.
Estávamos confiantes quando fretamos uma van e voltamos com torcida reforçada de alguns amigos no mês seguinte. A animação era tanta que respondemos a ‘Pergunta Laka’ nas duas vezes em que participamos. Porém, perdemos o quadro decisivo. E por culpa minha.
O disco sorteado para que cada time cantasse o trecho de uma faixa foi ‘Veneno Anti-Monotonia’, de Cássia Eller. Rafael ainda deu a dica de que aquele álbum era um tributo e que só continha composições de Cazuza.
Fiquei branco, já que não era muito familiarizado com a obra de Cazuza naquela época e conhecia apenas os sucessos mais aclamados. Cheguei inclusive a olhar algumas vezes para o Marco, na plateia, amigo que veio conosco e que sempre foi fã do sujeito.
Começaram com os adversários, que cantaram “Brasil”. Na nossa vez, ninguém sabia o que cantar e quando fomos repetidamente advertidos para que tentássemos alguma coisa, cantei um pedaço de “Malandragem”, na parte que diz “quem sabe ainda sou uma garotinha”.
Meu time entrou em desespero e já começou a me olhar de canto. Rafael deu risada e Adriane ainda deu uma zoada lembrando que foi dito que teria que ser uma música do Cazuza. E eles até corrigiram o equívoco antes de anunciar o vencedor, mas infelizmente aquela música não estava no CD e voltamos eliminados para Blumenau.
Em setembro, recebi a notícia de que o mesmo contato me conseguiu um convite para a quarta edição do aclamado Video Music Brasil, com direito à presença na festa pós-premiação, onde os artistas circulavam entre si sem muita preocupação com quem estivesse por perto.
Tudo aconteceu no Palácio das Convenções do Anhembi e o grande vencedor da noite foram os Racionais MC’s. Antes de começar, cruzei nos corredores com Yuka, do Rappa, com Rodolfo e Canisso dos Raimundos e com um espalhafatoso Rogério Flausino, cheio de brilhos e brincos.
Na festa, não sabia em que direção seguir e nem para onde olhar. Open food, open bar e personalidades que a gente geralmente só encontra na tela da TV ali do teu lado, aproveitando o momento. Era VJ bebendo com VJ, D2 fumando maconha no meio da pista e um moleque de 17 anos de vez em quando pedindo pra tirar foto com eles.
Não foram tantos, mas todos que abordei naquela noite me marcaram de alguma forma. O primeiro, Toni Garrido, extremamente simpático e atencioso. O segundo, Dado Villa-Lobos, monstruoso guitarrista da Legião Urbana que visivelmente não se sentiu confortável com a minha aproximação. E pensei que seria isso.
Talvez quem eu mais quisesse encontrar fosse o Chorão, do Charlie Brown Jr, inclusive porque estive lá com ‘pedidos’ para que não voltasse sem uma foto com ele. Na saída do pavilhão, sigo na direção do carro na companhia de meu pai quando, a poucos metros dali, chega um Chorão ‘torto’ de bêbado abraçado com três mulheres. Acho que ele percebeu que fiquei olhando, ou que captou minha admiração, já que meu olhar é meio estrábico.
Ele largou as mulheres, andou na direção do fã que carregava um monte de souvenirs e perguntou: “quer uma foto, meu amigo?”. Tudo foi registrado (e segue abaixo), mas com pequenas atitudes como essa, Chorão ganhou (comigo) um respeito que permaneceu inabalado mesmo depois de seu nome se envolver em inúmeras polêmicas.
No ano seguinte, consegui mais um convite para o VMB. A edição de 99 aconteceu na Via Funchal e foi apresentada por Cazé Peçanha. O vencedor da noite foi Raimundos, com “Mulher de Fases”, mas a atenção já estava em quem iríamos encontrar na festa.
Meu maior objetivo talvez fosse o ‘intocável’ Humberto Gessinger. E não passei nem perto. Ele esteve na premiação, mas assim que ela terminou, rumou direto para o hotel e encontrei apenas alguns músicos que faziam parte daquela formação, que já não tinha mais Augusto Licks e Carlos Maltz.
Ainda assim, conversei com Vinny, Otto, avistei alguns VJs e bati um breve papo com Pit Passarell, ex-líder do Viper. Falei pra ele que era um grande fã da banda e dos primeiros discos gravados com ele, que se demonstrou agradecido e uma pessoa extremamente agradável.
Em 2000, estive por lá de novo, infelizmente pela última vez. O evento foi no Credicard Hall e já na chegada me deslumbrei com alguns artistas que há tempos faziam parte da minha playlist.
O primeiro talvez tenha sido o multi-funcional Márcio Werneck, que estava em evidência pelo seu trabalho com a Caboclada. Começamos a conversa com o tradicional “E aí, beleza?” (título da música mais famosa), mas lembro de que ele gostou quando eu falei que gostava muito de outra faixa, “Moleque Trabalhador”.
Já perto da entrada, uma turma de Porto Alegre chamou a atenção só pelos cabelos de Rafael Malenotti. Fui direto pro meio deles, sem pensar duas vezes, quando o grupo que estava do lado não demorou pra soltar um: “bah, tu tem fã até aqui em São Paulo?”.
Quebrei a magia e revelei que eu era de Santa Catarina, mas que mesmo assim, adorava aquelas duas bandas. E, sim, esqueci de mencionar que o pessoal encasacado era a Comunidade Nin-Jitsu.
Sentamos nos camarotes superiores e vimos O Rappa levar a ‘Escolha da Audiência’. E na festa, colei em outros dois que se surpreenderam com aquele maluco empolgado que conhecia boa parte do que eles tinham feito musicalmente até então. Foram boas conversas com Sérgio Soffiatti, da Skuba (e ex-Sr Banana), além de Johnny, ex-líder d’Ostheobaldo, banda que trocou de vocalista e passou a se chamar Tihuana nos anos seguintes.
Mas aquele ano estava longe de acabar ainda e o nosso derradeiro arrego com a MTV naquele tempo foi a presença e participação em alguns quadros do MTV Na Praia, que teria uma etapa em Jurerê, Florianópolis.
Não lembro em quantos carros fomos, mas estávamos em um grupo de aproximadamente 7 pessoas. Aparecemos como figurantes, pedi um clipe no ‘Toca Aí’ e um casal de amigos ainda foi atração em um programa apresentado pela VJ Tathiana Mancini, aquela que tinha uma cobra enorme tatuada nas costas.
Claro que depois assistimos tudo na TV e gravei em VHS boa parte desse material, que encerra coincidentemente com a câmera fechando em minha direção antes de interromper o sinal. Além disso, foram algumas participações no Resposta MTV, uma no Caixa Postal 1303 e outra no CEP, antigo programa do Thunderbird.
Bons tempos de uma emissora que hoje infelizmente não existe mais. Essa que está no ar não traz nenhum resquício daquele espírito que dialogava e conversava com uma geração inteira. Que fazia, das mais variadas formas, seu público ter a certeza de aquela seria sempre a minha, a sua, a nossa MTV.
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